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Espaço generalista de informação e de reflexão livres. Na verdade, o politicamente incorreto afigura-se, muitas vezes, como a mais eficaz solução para se ser humana e eticamente LEAL! Desde 18.ago.2008. Ano XIII.
Por José Manuel Alho
As obras de restauro do Cineteatro ALBA (CTA) acentuaram a premência de uma intervenção integrada que reabilite a Praça Alameda 5 de Outubro.
Sabe-se que a edilidade tem planos que deverá concretizar a breve trecho. Importaria, contudo, abrir e facilitar a discussão pública que beneficiasse, enriquecendo, o processo de decisão.
A questão das praças – mormente as centrais – nas nossas cidades ganhou renovada acuidade na medida em que passou a denunciar o modo como o poder local pondera e define as suas funções. Num tempo em que os espaços públicos de lazer vão escasseando na paisagem urbana, diminuídos em favor de espaços privados, que privilegiam relações vincadamente mercantilistas em que o lazer se tornou um produto somente ao alcance de alguns, cumpre, ao mesmo tempo que se auscultam as legítimas expectativas da população, descortinar que modelo(s) arquitetónico(s) defenderá a o atual executivo camarário para aquele espaço.
"Considerando que uma das características mais interessantes das Praças, além da acessibilidade a todos os cidadãos, é a possibilidade de sociabilização que ali se fomenta, o ano de 2012 – principalmente o Verão - ficará gravado no baú da memória coletiva como um tesourinho escusadamente deprimente.
No caso concreto da Praça Alameda 5 de Outubro, o que se estará a desenhar priorizará a funcionalidade ou o lucro? A intervenção a realizar oportunamente será parcial, superficial ou estruturante? Que vantagens retirará a coletividade do novo enquadramento a dar à principal praça albergariense?
No último Verão, e em razão da esperada preocupação em encaminhar os populares para a programação oferecida pelo CTA, notou-se que a Praça ficou mais vazia, mais entregue às disfunções de uma crise que a todos toca. Não fossem os ranchos folclóricos, e pouco ou nada de genuinamente relevante ali se concentraria no período em que muitos conterrâneos regressam à sua terra natal para se sentirem “em casa”.
Considerando que uma das características mais interessantes das Praças, além da acessibilidade a todos os cidadãos, é a possibilidade de sociabilização que ali se fomenta, o ano de 2012 – principalmente o Verão - ficará gravado no baú da memória coletiva como um tesourinho escusadamente deprimente.
A Praça Alameda 5 de Outubro não pode ser um equipamento inerte, um ponto de passagem a caminho de qualquer coisa que não gera qualquer vínculo com os cidadãos. Como a quantidade e diversidade de equipamentos existentes na Praça não vai além de um coreto e de uma fonte luminosa, estão drasticamente reduzidas as possibilidades de uso e de apropriação.
Em consequência, urge pensar tão singular espaço de modo a que a comunidade participe na sua dinamização desde que preparado para disponibilizar, entre outras dimensões, experiências de contemplação, prática de desporto, cultura, convívio social, serviços e circulação. A menos, claro está, que se tenha por necessária a morte lenta e agonizante da Praça para garantir a sobrevivência do CTA…
Na verdade, as pessoas não querem como “suas” praças enquanto meros espaços públicos esvaziados de oferta e significado, mas sim um palco de representações sociais diárias, onde todos têm a liberdade de atuar, abrindo espaço para as manifestações mais intensas, criando e recriando a cultura.
Mas se a opção vier a recair numa visão redutora daquilo que pode (e deve!) ser a principal sala de visitas da sede do concelho, ficará igualmente claro que se perdeu uma oportunidade d’ouro de oferecer à população um equipamento de lazer realmente vocacionado para uma expressão de vida democratizada e inclusiva, que não excluiria ninguém por razões de ordem económica ou social.
José Manuel Alho